Postado em: "Tempos de Deus", Um ministério de Amor.
Não é nudez.
É nadez mesmo. É um conceito da filósofa Gertrude Stein. Ela criou o
neologismo referindo-se ao vazio interior das pessoas, que lhes dá uma
vida incolor. Elas necessitam de motivações, mas não querem causas que
exijam engajamento. Também não querem estudar, e receiam coisas
profundas. São superficiais e vegetativas. Alimentam-se do vazio e do
nada. Isto é a nadez.
Quer ver exemplos de nadez? Selecionei, em três sites, notícias
publicadas no dia 7 de janeiro. FOLHA.COM: (1) Fernanda Paes Leme curtiu
o mar neste sábado; (2) DiCaprio apresentou nova namorada à mãe; (3)
Marco Rizza se aborrece e levanta dedo para paparazzo. IG: (1) Famosos
levam seus bebês ao teatro no Rio; (2) Cláudia Jimenez e Miguel
Falabella jantam juntos no Rio de Janeiro; (3) Fernanda Lima e Rodrigo
Hilbert curtem peça. UOL: (1) Paula Abdul termina relacionamento com
Braston; (2) Top Ana Beatriz Barros vai à praia com namorado; (3) Filme
fez Scarlett Johansson parar de comer carne. Tirando-se DiCaprio, que
conheço pelo filme “Titanic”, se trombasse com os demais na rua não
saberia quem são. Vez por outra encontro alguns desses famosos em vôos
ou aeroportos. São-me tão conhecidos como eu para eles. Um cantor
chamou-me de alienado porque eu não sabia quem ele era.
São notícias típicas da cultura nadez. Dão às pessoas a sensação de
estarem informadas, de estarem por dentro dos bastidores. Sabem coisas.
Banais e inúteis, mas sabem. Ajunte-se a isto o prazer que bisbilhotar a
vida alheia dá e eis a realização da pessoa da cultura nadez. Ela se
sente ocupada e tem uma sensação de cultura. Seu vazio intelectual,
emocional e espiritual é preenchido com o nada.
Parece-me, sem querer ser maldoso, que estão surgindo uma cultura e
uma geração medíocres. Fui pré-adolescente e adolescente nos anos
sessentas. Aquela geração foi às ruas protestar. A geração de hoje vai
aos shoppings consumir. Aquela queria transformar o mundo. A atual quer o
melhor do mundo. O ideal cedeu espaço para o desfrute. Falta de
grandeza. Mas meu grande receio é que a nadez esteja migrando para as
igrejas. As pessoas querem agito, mas não reflexão. Querem sensações,
mas não estudo. Nada de “pesado” deve ser pregado. Sermão expositivo?
Nada disso! Que tal algumas historinhas? A mensagem e o culto devem ser
“light”, como as notícias dos sites. O estudo bíblico cede lugar ao
“compartilhamento”, um momento em que cada um conta uma história em que,
geralmente, é o herói. Fui a uma reunião de estudo bíblico na qual as
pessoas estavam sem Bíblia. Disseram-me, candidamente, que seu costume
era o de compartilhar sua semana uns com os outros. É uma boa prática,
mas não deveria receber o nome de “estudo bíblico”. O livro texto não
era a Bíblia, mas as pessoas. Não se estudava a Bíblia. Papeava-se. Em
muitos cultos nadez, as pessoas ouvem alguma coisa sobre Deus e cantam
alguma coisa sobre ele. Mas nada “denso” (como alguém me recomendou para
pregar), nada comprometedor. Tudo suave. Tudo nadez. Alguns de nossos
cânticos são nadez pura. O próprio enfoque da vida cristã não é mais o
de ideal, mas o de desfrute: como ser abençoado, como conseguir o melhor
na vida material, seguindo alguns bons conselhos espirituais. A vida
cristã passou a significar uma vida tranqüila, cheia de coisas, e não o
investimento da vida e dos bens no reino, num compromisso com o
evangelho e com a igreja de Jesus. Nadez espiritual.
Nadez cultural já é lastimável. Mas nadez espiritual é pior. Ilude a
pessoa. Leva-a a sentir-se realizada com migalhas que caem da mesa, e
não com o pão farto. Leitor, você está na fase da nadez ou do tudez? Não
tenho a envergadura de uma Gertrude Stein, mas deixe-me criar um
neologismo. O tudez vem do esquecido hino “Tudo, ó Cristo, a ti entrego,
tudo, sim, por ti darei”. Tudez dá realização. Nadez é engodo. Opte
pelo tudez.
Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
Pastor da Igreja Batista Central de Macapá – AP
Colunista deste Portal
isaltinogomes@hotmail.com
Extraído: ADIBERJ
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